‘Atualizações’ de vacinas contra covid devem sair em alguns meses

Imunizantes de segunda geração já estão sendo desenvolvidos para garantir proteção contra novas cepas do coronavírus

Enquanto ainda trabalham na disponibilização de vacinas contra a covid-19 de primeira geração, laboratórios ao redor do mundo correm contra o relógio para atualizar seus produtos e adaptá-los às novas variantes do coronavírus.

A necessidade de desenvolver vacinas de segunda geração se tornou ainda mais evidente desde dezembro de 2020, quando foram publicados estudos sobre mutações do vírus que poderiam impactar na proteção conferida pelos imunizantes.

Três delas são classificadas pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como “preocupantes”: B.1.1.7 (Inglaterra), B.1.351 (África do Sul) e P.1 (Brasil).

A entidade avalia que essas variantes são potencialmente mais resistente às vacinas já em uso por terem mutações na proteína S (spike), ou espícula, localizada na “coroa” do vírus e que é por onde ele se liga aos receptores humanos no momento da infecção.

Jorge Kalil, diretor do Laboratório de Imunologia do InCor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo) e professor da Faculdade de Medicina da USP, explica que as variantes afetaram diretamente o alvo de muitas vacinas.

“As mutações aumentaram a afinidade [do vírus] com os receptores humanos de tal forma que os anticorpos chamados neutralizantes [conferidos pelas vacinas], que reconheciam a versão original do vírus, muitos deles passam a não reconhecer quando tem essa mutação. Todas as vacinas devem perder um pouco ou muito da eficácia.”

Vacinas como a da Universidade de Oxford/AstraZeneca, Pfizer/BioNTech, Moderna, Janssen (Johnson & Johnson) e da Novavax já demonstraram, em diferentes graus, uma perda de anticorpos neutralizantes em pessoas que tiveram contato com a cepa sul-africana.

O desempenho dos imunizantes não foi afetado significativamente em relação à variante do Reino Unido.

Estudos ainda estão em andamento para saber como as vacinas se comportam com a cepa identificada em Manaus (AM).

“Os estudos de eficácia dessas vacinas foram com as cepas originais. Janssen, Novavax e Oxford foram testadas agora já mostrando uma perda grande de anticorpos neutralizantes eficazes. Isso não é uma hipótese, já está acontecendo, tanto que estão começando a trabalhar em uma segunda geração adaptando a vacina com a genética da proteína S das cepas mutantes”, observa a médica Mônica Levi, da SBIm (Sociedade Brasileira de Imunizações).

Uma das notícias que mais causou controvérsia foi a de que a África do Sul estava suspendendo o uso da vacina de Oxford após testes realizados pela Universidade de Witwatersrand, em Johanesburgo, mostrarem que a eficácia dela caiu de 62% para 22% contra a cepa B.1.351.

A OMS discordou de decisão do governo sul-africano alegando que o estudo ainda é preliminar e que envolve apenas casos leves e moderados, apontando que a vacina ainda pode proteger contra formas graves da covid-19.

Oxford e AstraZeneca preferem não arriscar. Cientistas já preparam uma versão atualizada da vacina — possivelmente partir de setembro deste ano — que já incluirá a proteção contra as três variantes.

O imunizante desenvolvido pela norte-americana Novavax, baseado na proteína S, demonstrou 89% de eficácia em testes no Reino Unido, mas 60% na África do Sul.

Mesmo sem ter lançado ainda a primeira versão de sua vacina, a Novavax já anunciou que pretende criar uma nova, que confira maior proteção contra as mutações encontradas na cepa B.1.351.

A Moderna já tem uma vacina em uso nos Estados Unidos e Europa, principalmente, mas também já começou a trabalhar em uma atualização para o produto.

Por ser feito de RNA mensageiro, assim como o da Pfizer/BioNTech, esse tipo de imunizante é mais fácil de ser adaptado a eventuais mutações do vírus.

No ano passado, a BioNTech afirmou que poderia ter uma nova vacina em seis semanas, caso houvesse necessidade.

A alemã CureVac utiliza a mesma tecnologia de RNA mensageiro e também já está criando uma “ampla linha” de vacinas de primeira e segunda gerações, disse um executivo da empresa em comunicado na última sexta-feira (5).

Ainda sem ter lançado a primeira geração, a CureVac já prevê vacinas que incluam as novas variantes a partir de outubro. A empresa firmou parcerias com duas gigantes do ramo farmacêutico — GSK e Bayer — para ampliar sua capacidade.

Vacina brasileira

Nos laboratórios do InCor, Jorge Kalil e a equipe dele trabalham há quase um ano no desenvolvimento de uma vacina com tecnologia 100% brasileira e por aplicação via spray nasal.

Baseada em VLP (virus-like particle, ou partícula pseudoviral), a vacina não utiliza material genético viral para promover resposta imune.

Kalil conta que já incluiu as cepas emergentes no estudo.

“É possível que a gente tenha que constantemente fazer adaptações. Por isso eu sempre falo, desde o início, que é muito importante a gente ter uma vacina nacional que consiga ser adaptada às necessidades que temos aqui no Brasil.”

A previsão dele é iniciar os primeiros testes em humanos até o fim deste ano.

(R7)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *